O calor de 35° do lado de fora da Bienal de Artes no Parque Ibirapuera já denunciava: começou a edição de inverno do São Paulo Fashion Week. Depois de encarar a fila de meia hora para o sistema de credenciamento, conseguimos entrar no pavilhão de um prédio completamente diferente da edição interior. Confesso que tive um pouco de vertigem quando olhei para o laguinho translúcido que percorria um pavilhão a outro do hall de entrada. A água refletia os andaimes e arames do teto, e eu pensei que se tratava de um sistema de queda livre para o andar de baixo. Depois que entendi que não passava de H2O, parei para tirar a foto que abre o post e que se vê logo na entrada.
Desde o térreo até chegar no terceiro andar, onde fica a sala de imprensa, todos podiam ouvir um som suave, cujo volume aumentava à medida que subíamos. Era uma orquestra de música clássica – a violoncelista usava um volumoso vestido preto em camadas, muito bonito – que recepcionava os jornalistas para um coquetel antes da coletiva. O empresário Paulo Borges estava elegante e visivelmente nervoso, embora já faça 15 anos que ele assume este trabalho. Quando começou a falar na frente da plateia e dos fotógrafos no pit, sua voz falhou. “Não sabia se lia ou se falava naturalmente sobre este momento. Gostaria de agradecer a todos os parceiros, porque as pessoas falam muito no meu nome, mas se esquecem de que nada seria possível sem o nosso processo colaborativo”, disse.
Logo na entrada, perto da rampa no primeiro piso, pufes e sofazinhos
estão prontos para receber os mais cansados.
Lá pelas tantas, Borges ficou mais emotivo ainda e abriu o coração para os jornalistas. “Eu tenho um lado feio, humano. Todo mundo me vê e acha que eu sou tranquilo, mas isso só é possível porque troco essa carga energética negativa com os amigos”, confessou. Ele está à frente da equipe da Luminosidade – que organiza o SPFW – desde a primeira edição, quando tinha de ajudar os estilistas com tecidos e sapatos para realizarem seus desfiles. Eram outras épocas. Agora, o que não faltam são marcas interessadas em patrocinar o evento, algumas há mais, outras há menos tempo. Pela 17ª vez, a Melissa é uma das fontes que permitem a semana de moda acontecer. Ao seu lado, a Boticário vem com seu lounge e apoio pela primeira edição, em busca de aliar seu nome em cosméticos também à moda.
O prefeito Gilberto Kassab disse que “a SPFW mostra como São Paulo é uma cidade antenada e moderna ao ser um dos cinco mais importantes eventos que existem aqui por ano.” Já o governador Garaldo Alckmin foi além: para o sorriso aberto de Borges, ele disse com todas as letras que esta semana ”faz a nossa cidade ser equiparada a Nova York, Londres, Milão e Paris quando se fala de moda.” Mônica Serra, que lidera a campanha de conscientização Câncer de Mama no Alvo da Moda, foi outra que não poupou elogios ao organizador. “Paulo tem criatividade e fé, o que o torna uma pessoa muito generosa para compartilhar a arte com os outros”, disse.
Modelos mostram camisetas criadas por vários estilistas, entre eles Simone Nunes,
para a campanha Câncer de Mama no Alvo da Moda.
Um início de muitos louvores ao empresário, o principal nome da maior semana de moda brasileira que tenta a todo custo se profissionalizar mais e mais. Pela primeira vez na história, a organização proibiu o acesso de jornalistas credenciados que não têm convites às salas de desfile. As assessorias das marcas, que antes ficavam na porta das salas facilitando a passagem, agora ficam somente dentro da sala de imprensa dando convites a repórteres devidamente mapeados. Um avanço? Um retrocesso? Isso e mais várias outras mudanças só poderão ser avaliadas após o desfile da Cavalera, que encerra a semana às 21h30 do dia 2. Até lá, vamos observar os mínimos detalhes de tudo. E ver se Paulo Borges merece, mesmo, todos os elogios recebidos.
Amplitude e Grandiosidade
É só chegar que a gente vê tudo diferente. Primeiro, na entrada. Em vez de o acesso dos visitantes se dar pela parte lateral da Bienal, como era de costume, ele acontece pela parte dos fundos, mais perto das árvores do Parque Ibirapuera. Eu tive a impressão de que o clima, desta vez, está mais parecido com o Fashion Rio carioca do que nunca, integrado às belezas naturais da cidade – no caso, as plantas do parque.
1.500 samambaias transpoem o parque para dentro da Bienal.
Foi depois de conversar com o estilista Rogério Hideki, da V. Rom, que entendi o ideal do organizador Paulo Borges para esta edição. A cenografia criativa formada por uma parceria com o Estúdio Árvore, de que Hideki faz parte, o 20.87 Designworks e a própria Luminosidade quis respeitar o desejo de trazer mais frescor ao evento. Antes era tudo muito fechado, até um tanto claustrofóbico dentro do prédio. “Estamos há quatro meses trabalhando juntos para criar um espaço mais aberto e agradável a quem vem ao SPFW”, explica Rogério.
200 mil litros d’água constituem um laguinho artificial que circunda os 120 metros de passarela. A passagem liga o portão de entrada ao início dos lounges da Bienal. A impressão de grandiosidade se dá pelo reflexo do teto na água, exatamente como os arquitetos planejaram. Além disso, 1.500 samambaias suspensas formam outra parte da decoração, reforçando a ideia de que o parque está dentro do prédio da Bienal.
Na passarela de entrada, cavilhas no teto e 200 mil litros de água.
Penduradas no teto, 100 mil cavilhas (uma espécie de graveto) são responsáveis por formar as estruturas de polígonos que pendem do teto. Os camarins e backstages não são mais vedados à luz do dia. As paredes são todas de vidro para receber a claridade natural. “As tradicionais caixas de papelão, usadas nas cenografias anteriores, forram agora todas as paredes interiores dos lounges”, explica Rogério.
Samambaias, cavilhas e caixas de papelão tornaram-se, então, os pilares cenográficos desta edição do SPFW. Dois lounges são, inclusive, inteiramente abertos: o da Oi e o da Boticário. Pelo menos o ambiente está, sim, mais agradável do que nunca.
Beijos e Sucesso!
Andreia Napoleão.
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