Os esquenta-cadeiras do SPFW

Uma marca tem um cliente que sempre vai à sua loja. Faz compras, confere os catálogos, até cumprimenta os vendedores quando chega na porta. Na época do lançamento de coleções, o freguês fica todo feliz ao receber seu convite para o São Paulo Fashion Week em casa. Animado, prepara-se para assistir aos lançamentos de sua grife favorita, escolhe um modelito adequado e chega à sala de desfile. Qual não é sua surpresa ao reparar que a fila E, onde está marcado o seu lugar, fica longe demais da passarela. Ele não vai conseguir ver os detalhes dos sapatos, que são os itens preferidos em seu guarda-roupa.

Quando vai subir as escadas, desanimado, vê que há uma área vazia na primeira linha. Disfarçadamente e certo de que ninguém percebeu, ele senta ávido pela sacolinha de brinde quando uma outra pessoa, munida de radinho e fones de ouvido, que estava sentada um pouco mais adiante, levanta e faz a pergunta que ele temia: "Posso ver o seu convite?" Ele está na fila E. Levanta-se, frustrado, e segue para o lugar correto.

Distribuição das filas na sala de desfile de Ronaldo Fraga

Mas afinal, quem é aquele que conferiu o seu convite? Provavelmente, um esquenta-cadeiras. Toda sala limitada e potencialmente capaz de lotar precisa de alguns deles para garantir que não falte assento para quem precisa assistir ao show de qualquer forma. A profissão existe há muito tempo e já garantiu que vários colunistas e pessoas importantes no mundo da moda pudessem assistir às apresentações de um lugar privilegiado mesmo chegando quando a porta estava prestes a se fechar.

"No desfile de hoje, a Huis Clos, deixamos três estagiários responsáveis por guardar lugares importantes", disse a assessora de comunicação Helena Augusta. Ela explica que sempre traz alguém da equipe para ajudar a sentar pessoas que já confirmaram o comparecimento ao show, mas ainda não chegaram. Acrescenta, porém, que nem sempre isso funciona: "Hoje, por exemplo, a Lilian Pacce chegou muito atrasada e quase teve de assistir ao desfile de pé, mas no fim, demos um jeito" comenta.

Aqui, cabe uma explicação. Até a edição de verão 2011, as assessorias de imprensa de cada marca ficavam na porta da sala, remanejando os lugares e deixando entrar jornalistas e convidados importantes que estavam sem convite - por não haverem recebido ou por terem esquecido de levar. Agora, tudo mudou. Ninguém mais entra sem convite. Na porta das salas não há ninguém além de seguranças altos e fortes que rasgam seu convite para assegurar que o importante papel não será repassado a outro entusiasta.


"Trazemos 14 pessoas da nossa equipe", conta Thiara Matos, da Namídia, assessoria responsável por cuidar de cinco dos 31 desfiles desta edição: "A depender da marca, deixamos três ou quatro encarregados de cuidar para que os lugares reservados sejam garantidos." O perrengue é que gente importante também tem seus caprichos - e muitos. É comum que Costanza ou Gloria peçam para sentar juntas e, daí, a equipe tem que se virar para fazer o desejo se tornar realidade. "A Regina Guerreiro já nos pediu para sentar em outro lugar porque o ar condicionado de onde estava era forte demais", lamenta.

Mas a equipe da Luminosidade também tem seus próprios contratados para guardar os lugares. Priscila Campos, gerente de comunicação da empresa organizadora do SPFW, explica que essas pessoas são muito importantes para o bom funcionamento dos desfiles e que, hoje em dia, não são se resumem mais a meros esquenta-cadeiras. "Nós contratamos estudantes de Moda e Jornalismo para participarem dos desfiles e eles nos ajudam a organizar as filas e os assentos. A função ganhou importância ao longo dos anos", conta.

Esses funcionários recebem uma ajuda de custo. Em apresentações mais concorridas, retiram-se das salas logo antes de o desfile começar porque não há espaço para eles. Tudo na mais santa paz, garante Priscila. Mas nem com a exigência de convites, a carreira dos guardadores de lugares está ameaçada, já que muita gente tenta sentar em áreas o mais próximas possível das passarelas. O jeito é aceitar que eles existem e estão sempre por perto, aproveitando os minutos de fama e o poder que lhes é conferido. Afinal de contas, sem eles, as pessoas mais importantes das plateias teriam uma séria dor de cabeça.

Beijos e Sucesso!
Andreia Napoleão.

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